Super Mario World
Se há um jogo que remete à infância de várias gerações, esse jogo é Super Mario World. Para nós, que crescemos nos anos 90 e anos 2000, basta ouvir os primeiros acordes da trilha sonora para sermos imediatamente transportados de volta à época das TVs de tubo, dos cartuchos assoprados e das tardes sem fim, tentando descobrir cada segredo dessa terra mágica em 16 bits. Mais do que um jogo, Super Mario World é um fragmento de tempo cristalizado em pixels, um portal para um passado onde os desafios eram simples, mas as emoções eram imensas.
Quando o Super Nintendo Entertainment System (SNES) chegou oficialmente ao Brasil em 1993, os videogames ainda viviam a transição dos 8 para os 16 bits. Para quem estava acostumado com os gráficos rudimentares do NES ou dos clones nacionais do Famicom, como o Phantom System, ver Super Mario World pela primeira vez era quase uma experiência transcendental. As cores vibrantes, os sprites detalhados, a trilha sonora cativante – um salto tecnológico inacreditável.
Mas ter um SNES naquela época não era para qualquer um. O alto preço dos consoles importados tornava o acesso mais difícil, e muita gente conheceu Super Mario World graças às locadoras ou àquele amigo ou primo sortudo que possuía o console. o que era sempre o meu caso. Os finais de semana eram planejados em torno da possibilidade de passar a tarde na casa de alguém jogando.
A primeira coisa que chamava a atenção em Super Mario World era sua riqueza visual. Os 16 bits deram vida a um mundo expansivo e dinâmico, onde cada fase possuía identidade própria. Desde os campos verdes da Yoshi’s Island até as fortalezas sombrias do mapa do Bowser, o jogo emanava uma atmosfera única, e cada elemento parecia meticulosamente planejado para criar uma jornada envolvente e inesquecível.
Se havia algo que imediatamente distinguia Super Mario World de seus antecessores, era a introdução de Yoshi. O dinossaurinho não era apenas um aliado fofo – ele redefinia a jogabilidade, trazendo novas possibilidades estratégicas. Cada tipo de casco absorvido lhe dava uma habilidade diferente, criando um nível extra de profundidade e estimulando os jogadores a experimentarem abordagens alternativas. Yoshi foi tão bem recebido que se tornou um dos mascotes mais amados da Nintendo, conquistando espaço próprio em jogos futuros.
Uma das maiores revoluções do jogo estava na forma como ele tratava a exploração. Se os Marios anteriores eram experiências mais lineares, Super Mario World subverteu essa lógica, transformando cada fase em um pequeno quebra-cabeça. Atalhos ocultos, saídas secretas e um mapa dinâmico faziam com que cada jogada trouxesse algo novo.
Descobrir pela primeira vez a Star Road era um evento mítico, e a Forest of Illusion, com seus caminhos confusos e misteriosos, deixava qualquer um maluco. A sensação de desbloquear uma fase secreta era pura euforia, tornando o jogo não apenas um desafio de habilidade, mas também de curiosidade e persistência.
Nos anos 90, multiplayer significava estar lado a lado no sofá, trocando o controle a cada morte ou dividindo estratégias entre amigos. Super Mario World era um jogo feito para ser compartilhado, seja disputando quem conseguia passar uma fase sem perder vidas ou quem descobria o próximo atalho escondido.
As locadoras foram essenciais nesse fenômeno. Alugar Super Mario World na sexta-feira e passar o final de semana inteiro tentando zerá-lo antes da devolução era quase um ritual. Às vezes, o cartucho vinha com um save misterioso, revelando avanços que despertavam a curiosidade: "Quem era esse jogador desconhecido que já tinha desbloqueado tudo? Como ele conseguiu?" Esse intercâmbio indireto de experiências criou uma comunidade espontânea, na qual os segredos do jogo se espalhavam boca a boca. Em um Brasil onde a internet ainda engatinhava, o conhecimento sobre Super Mario World era transmitido como um segredo valioso. Aquele amigo que sabia destravar o Special World ou terminar a Star Road sem pular nenhuma fase virava uma espécie de guru local dos videogames.
Mas o que fazia Super Mario World ser realmente especial ia além da jogabilidade envolvente: eram os seus segredos. Cada fase parecia esconder algo a mais – uma saída alternativa, uma passagem oculta, um bloco invisível com um item valioso. O jogo não apenas permitia, mas incentivava a experimentação, transformando cada jogador em um explorador. Havia algo mágico em testar cada tubo, bater em cada parede suspeita, perseguir aquela sensação de que um segredo estava logo ali, esperando para ser descoberto. Encontrar a Star Road, por exemplo, era quase um rito de passagem, abrindo portas para atalhos misteriosos e até mesmo para o enigmático Special World, onde o desafio atingia outro nível. Esses mistérios não eram apenas mecânicas do jogo – eram histórias silenciosas, compartilhadas entre amigos no boca a boca, transformando a experiência individual em uma espécie de lenda coletiva.
Mesmo décadas depois, Super Mario World mantém um magnetismo inexplicável. Enquanto muitos jogos envelhecem ou se tornam obsoletos, este permanece tão envolvente quanto no primeiro dia. Parte disso se deve ao equilíbrio entre simplicidade e profundidade: qualquer um pode pegá-lo e se divertir, mas os jogadores mais dedicados sempre encontram novos desafios e segredos.
A trilha sonora é outro elemento essencial para sua longevidade. Quem ouve a música da Overworld Theme imediatamente é transportado para um tempo mais simples, onde as maiores preocupações eram desviar de um Toni Trombadinha ou encontrar um caminho alternativo no mapa. São melodias que se tornaram inseparáveis da memória afetiva de uma geração, evocando um misto de nostalgia e conforto. Mais do que um jogo, Super Mario World virou um símbolo de uma era. O fato de continuar presente em coletâneas modernas da Nintendo e ser jogado por novas gerações reforça que ele transcendeu sua época – não é somente um clássico, como também um pilar fundamental da história dos videogames.
Para quem cresceu nos anos 90, Super Mario World é muito mais do que um jogo de plataforma. Ele é uma lembrança viva da infância, das amizades construídas ao redor de um console, das pequenas vitórias ao descobrir um segredo inesperado. Seu impacto vai além da inovação técnica ou do level design impecável. Ele moldou a forma como muitos enxergam os videogames – não apenas como um passatempo, mas como um espaço de exploração, descoberta e conexão.
E talvez seja por isso que, mesmo hoje, ao ver a tela de abertura de Super Mario World, um arrepio percorra a espinha. Porque há jogos que fazem parte da nossa história, e há aqueles que simplesmente nunca nos deixam. Enquanto houver um SNES funcionando (ou um emulador, porque a nostalgia sempre encontra um jeito), Super Mario World continuará sendo um lar pixelado, esperando para nos receber de volta.