segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Harvest Moon: Back to Nature
Harvest Moon: Back to Nature para o PlayStation 1 é mais do que um jogo; é uma experiência que mistura serenidade, nostalgia e um desafio surpreendente. Lançado em 1999, ele coloca o jogador no controle de uma fazenda decadente que precisa ser restaurada em três anos, mas a verdadeira mágica está nos detalhes: na atmosfera cuidadosamente construída, nas interações com os habitantes da vila e na sensação de pertencimento que emerge ao longo da jornada. Apesar de eu mesma nunca ter conseguido jogar por muito tempo – as tarefas e o planejamento sempre me pareceram complexos demais sem algum conhecimento prévio –, adoro assistir e me encantar com a forma como o jogo captura a simplicidade e a beleza da vida rural. Para mim, a maior qualidade de Back to Nature é a atmosfera aconchegante, especialmente nos dias de chuva, quando o som das gotas e o tom escuro que envolve a paisagem criam uma calma quase terapêutica.
A atmosfera é o coração pulsante do jogo. Tudo nele foi pensado para transmitir uma sensação de tranquilidade que transporta o jogador para um mundo de pura paz rural. As estações do ano mudam não só as paisagens, mas também as atividades, criando uma imersão que poucos jogos da época conseguiam alcançar. A trilha sonora complementa essa experiência com melodias suaves, que embalam as tarefas diárias, enquanto festivais e eventos comunitários dão um toque de vivacidade e criam um vínculo emocional com os personagens. Mesmo quem não está jogando – como eu, que prefiro assistir – é capaz de se perder no charme do mundo que o jogo cria, um lugar onde cada detalhe, por menor que seja, parece ter sido feito para encantar e acalmar.
Mas não se deixe enganar pela aparência simples. Harvest Moon: Back to Nature é surpreendentemente complexo e exige planejamento cuidadoso. O tempo no jogo passa rapidamente, e cada dia traz decisões: cuidar dos animais, plantar, colher, socializar ou preparar o terreno para a próxima estação. A energia do personagem é limitada, e ultrapassar seus limites pode resultar em hospitalização, adicionando uma camada de estratégia às tarefas cotidianas. Além disso, desenvolver relações com os mais de cinquenta personagens requer atenção, memorização de gostos e participação nos eventos da vila. Para jogadores experientes, essa profundidade é recompensadora; para mim, observar como tudo se desenrola é uma forma de apreciar a genialidade do design sem me perder na pressão das tarefas. O meu argumento é: o verdadeiro charme está em apreciar a atmosfera do jogo e a maneira como ele constrói uma sensação de mundo vivo. No entanto, a complexidade das tarefas e a necessidade de um conhecimento prévio tornam a curva de aprendizado desafiadora demais para quem está começando a jogar agora, impedindo que eu mergulhe completamente na experiência.
Comparado aos outros jogos da franquia, especialmente ao clássico de Super Nintendo, Back to Nature se destaca pela profundidade emocional e pelos sistemas mais elaborados. As interações sociais são mais ricas, com eventos únicos que revelam a história e a personalidade de cada personagem. A arte, mais detalhada e vibrante, torna a experiência ainda mais imersiva, enquanto a trilha sonora icônica eleva a ambientação a um novo nível. Mesmo décadas depois, é um jogo que continua sendo referência para muitos, não apenas como um marco na série Harvest Moon, mas também como inspiração direta para títulos como Stardew Valley, que modernizou a fórmula ao incorporar elementos de combate e crafting. Ainda assim, o charme e a atmosfera única de Back to Nature permanecem insuperáveis – além de este continuar sendo o verdadeiro antecessor espiritual (o bisavô) de todos esses jogos modernos, como o famoso Stardew Valley.
Nos dias de chuva, o jogo atinge seu ápice emocional. O som das gotas caindo nos telhados, o tom escuro suave que colore o cenário e a desaceleração natural das tarefas criam momentos de introspecção que transformam o ordinário em algo extraordinário. É nesse contraste entre a simplicidade da vida rural e os desafios do gerenciamento que Back to Nature encontra seu equilíbrio perfeito. Assistir ao jogo – especialmente durante essas chuvas – é como revisitar um sonho, onde cada detalhe parece projetado para confortar e inspirar.
Harvest Moon: Back to Nature não é apenas um jogo, mas uma janela para um mundo onde o ritmo da vida é mais lento e os pequenos gestos têm grande impacto. Seja para quem joga ou para quem, como eu, prefere assistir, ele continua sendo uma experiência única que nos convida a desacelerar, refletir e encontrar beleza nos momentos mais simples. É um clássico que transcende o tempo, e sua influência em jogos como Stardew Valley apenas reforça a importância de sua contribuição ao gênero de simuladores de vida.
Para finalizar, nada melhor do que assistirmos a um dia chuvoso em Harvest Moon! É só clicar na imagem abaixo!
domingo, 12 de janeiro de 2025
Ori and the Blind Forest
Se me perguntarem qual o jogo mais bonito que já joguei, minha resposta será imediata, sem pensar duas vezes: Ori and the Blind Forest. Não apenas por ser visualmente deslumbrante – o que, sem sombra de dúvidas, é –, mas porque há algo ali, na forma como o jogo combina narrativa, arte e música, que transforma a experiência em algo transcendental. Qualquer pessoa que tenha se aventurado pela floresta de Nibel sabe exatamente do que estou falando. É um jogo que não se joga apenas; você o sente. Ele te abraça e, ao mesmo tempo, desafia, deixando uma marca que dificilmente se apaga.
Ori and the Blind Forest nasceu de um sonho. Literalmente. A Moon Studios foi criada exclusivamente para dar vida a este jogo, unindo talentos espalhados pelo mundo com o único propósito de construir algo extraordinário. Essa visão começou em 2010, quando decidiram criar um estúdio diferente, onde barreiras geográficas não limitassem a criatividade. A ideia de uma equipe distribuída, trabalhando remotamente, possibilitou reunir pessoas apaixonadas e de perspectivas únicas. E então, com o apoio da Microsoft, que adquiriu os direitos de distribuição cerca de um ano após o início do desenvolvimento, o sonho começou a ganhar forma. A parceria entre um pequeno estúdio independente e uma gigante como a Microsoft não foi apenas uma oportunidade; foi o alicerce que permitiu que cada detalhe do jogo fosse refinado até alcançar um nível quase inatingível de perfeição.
E essa perfeição se reflete em cada instante do jogo. A história, que parece simples à primeira vista, logo revela camadas profundas de emoção e significado. Ori, um espírito guardião, é acolhido por Naru, uma figura maternal que enche os primeiros momentos de calor e ternura. Mas a tragédia logo quebra essa harmonia, deixando Ori sozinho em um mundo em colapso. A jornada que se segue – para restaurar a vida da floresta de Nibel – não é apenas uma missão heroica. É uma ode à resiliência, à coragem e à conexão com algo maior do que nós mesmos. Com gestos silenciosos, uma trilha sonora inesquecível e visuais que parecem ter sido arrancados de um sonho, Ori comunica mais do que qualquer diálogo seria capaz.
O mundo que Moon Studios criou é uma pintura viva. A floresta de Nibel respira e pulsa com vida, e cada canto dela parece meticulosamente desenhado à mão. A paleta de cores não está ali só para ser bonita; ela conta histórias, reflete emoções e guia o jogador por um caminho de luzes e sombras que é tão mágico quanto orgânico. O uso da iluminação, por exemplo, vai além do estético; é funcional e narrativo, como se a própria floresta estivesse conversando com você. E há algo quase mágico na fluidez com que as áreas se conectam, como se não houvesse limites entre um cenário e outro – somente uma continuidade que te convida a explorar.
Mas o que seria da beleza sem a jogabilidade? Ori and the Blind Forest é mais do que visualmente encantador; ele desafia você a se mover com graça e precisão. Cada habilidade que Ori aprende, como o icônico Bash, não só amplia suas opções de exploração, mas também transforma o modo como você interage com o mundo. Cada salto, cada desvio, cada fuga tensa (como a inesquecível subida na árvore Ginso) parece uma dança entre você e o ambiente, uma troca constante de movimentos que recompensa tanto a habilidade quanto a paciência. E há algo incrivelmente único no sistema de salvamento, o Soul Link, que transforma até o simples ato de salvar em uma escolha estratégica.
Nada disso seria possível sem a trilha sonora, que é uma personagem à parte. Ela não só acompanha os acontecimentos, mas os eleva. Desde os sussurros melódicos que te envolvem durante a exploração, até os crescendos épicos que aceleram o coração nas sequências de ação, cada nota parece pensada para tocar algo profundo dentro de quem joga. Não é apenas música; é narrativa pura, que guia suas emoções tanto quanto a própria história.
E então veio Ori and the Will of the Wisps, lançado em 2020, para expandir essa magia. Se o primeiro jogo foi uma obra de arte em equilíbrio, o segundo é a sua evolução. Com um mundo três vezes maior, um sistema de combate reformulado que permite o uso de armas como espadas e arcos, e novas formas de personalizar habilidades, o jogo elevou a experiência a outro patamar. O centro vibrante de Wellspring Glades, onde personagens oferecem quests e melhorias, cria uma sensação de comunidade única. A narrativa se aprofunda ainda mais, explorando temas de sobrevivência e esperança, enquanto Ori enfrenta inimigos como a poderosa e trágica coruja Shriek. É um lembrete de que, mesmo em um universo digital, há espaço para contar histórias que nos tocam profundamente.
No entanto, a verdadeira mágica de Ori está no impacto que ele deixa. É o tipo de jogo que você finaliza e, mesmo assim, sente que ele nunca realmente termina. Ele permanece com você, como uma memória vívida de algo que foi mais do que entretenimento. Não é exagero dizer que Ori redefiniu o que eu acredito que videogames podem ser. E pensar que tudo começou com o sonho de criar algo que homenageasse clássicos de plataforma, mas que acabou se tornando muito mais: um marco artístico e emocional.
Se você ainda não jogou Ori and the Blind Forest ou sua continuação, não há mais o que esperar. A floresta de Nibel e os mistérios de Will of the Wisps estão lá, esperando para serem explorados. Não são apenas jogos – são experiências que iluminam a alma. Uma vez que você entrar, é impossível sair o mesmo.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
Worms Armageddon
"Worms Armageddon" (1999) é um mergulho direto na alma da era dos anos 90, quando videogames ainda tinham o poder de reunir amigos no sofá para uma experiência tão caótica quanto inesquecível. Lançado em 1999 pela Team17, o jogo se destacou por sua fórmula simples, mas com um toque de genialidade: equipes de minhocas armados com bazucas, granadas de banana e a inesquecível Granada Aleluia, duelando em cenários cheios de possibilidades e surpresas. Cada partida era um espetáculo de estratégia improvisada, com pitadas generosas de humor e sorte — e talvez algumas amizades abaladas por um tiro bem colocado.
Se há algo que Worms Armageddon conseguiu capturar perfeitamente, foi a essência do multiplayer local. Imagine a cena: uma sala iluminada pela luz da TV, risadas ecoando enquanto alguém erra um tiro crucial por causa do vento, e aquela mistura inconfundível de competição e camaradagem. Para muitos, essas sessões não eram apenas jogos — eram pequenos eventos sociais que se tornaram parte da memória coletiva de uma geração. E mesmo no modo solo, havia um certo charme em dominar os desafios insanos das missões, que pareciam estar constantemente testando tanto a paciência quanto a criatividade do jogador.
O diferencial de Worms Armageddon, no entanto, está na maneira como ele mescla simplicidade com profundidade. O sistema de física, até hoje lembrado como um dos mais inovadores, transformava até mesmo o ato de arremessar uma granada em uma aula de cálculo prático. Força, ângulo, vento — tudo influenciava cada decisão, e cada erro podia ser uma explosão de risos ou de frustração. A Ninja Rope, com sua física única e curvas de aprendizado desafiadoras, era praticamente uma arte. Quem dominava essa ferramenta não era apenas um jogador habilidoso; era um ninja das minhocas.
E como não falar das falas? Quem jogou jamais esquece o "Sir, yes sir!" dito em tons caricatos, ou o "Oh, não!" que precedia explosões catastróficas. Esses pequenos detalhes de sonoplastia não eram apenas um complemento; eles definiam o caráter e a identidade do jogo, transformando cada vermizinho em uma espécie de anti-herói tragicômico. O som era parte da experiência, elevando o humor e consolidando o charme nostálgico que permanece até hoje.
Além disso, o arsenal de Worms Armageddon era um espetáculo à parte. As armas e ataques garantiam momentos hilários que transformavam o cenário em um show de destruição e risos. Podemos citar o Gambá (ou melhor, cangambá), que espalhava gás venenoso causando danos contínuos às minhocas afetadas, e a icônica Velhinha, que caminhava lentamente pelo campo antes de explodir em uma despedida cômica. O Lança-Ovelhas fazia o caos voar literalmente, lançando ovelhas explosivas em trajetórias improváveis, enquanto a caótica Vaca Maluca trazia uma sequência de bovinos descontrolados – uma fileira de vaquinhas muito loucas e explosivas. Cada uma dessas armas não era apenas útil estrategicamente, mas também carregava o tom irreverente que fazia do jogo algo único.
Mesmo décadas após seu lançamento, Worms Armageddon continua relevante — uma prova do impacto que ele causou. A comunidade fiel mantém o jogo vivo através de mods, mapas personalizados e até mesmo melhorias que os fãs mesmos desenvolveram. Claro, as edições recentes dividem opiniões: enquanto muitos celebram o acesso renovado ao clássico, outros lamentam a falta de aprimoramentos gráficos ou modos online mais robustos. Mas talvez isso apenas destaque o verdadeiro legado do jogo: ele não precisa de polimento ou modernização para ser especial. Sua força está na simplicidade e na diversão explosiva que oferece.
Worms Armageddon é um jogo que, em vez de ficar datado, parece ter ganho mais valor com o passar dos anos. Seja para reviver as risadas de um multiplayer local ou para se perder na nostalgia das vozes dos minhocas, o jogo continua a ser uma experiência única. Afinal, em um mundo repleto de gráficos ultrarrealistas e narrativas épicas, ainda há algo mágico em simplesmente juntar uns amigos, preparar umas granadas e deixar o caos tomar conta.
Spore
Quando Spore foi lançado em 2008, parecia ser uma experiência revolucionária, algo que prometia transformar a maneira como pensamos sobre jogos. Imagine um jogo que te leva de uma célula perdida num oceano primordial até o domínio galáctico – era isso que Spore oferecia. Criado por Will Wright, o gênio por trás de The Sims [1], o jogo trouxe uma promessa única: liberdade criativa em todas as escalas – desde microscópica até cósmica. E, embora tenha alcançado momentos brilhantes, também tropeçou em algumas de suas ambições.
Desde o início, o jogo te convidava a criar. O Editor de Criaturas era a alma dessa experiência, permitindo que você moldasse criaturas, veículos, edifícios e até naves espaciais. Esse editor era onipresente em todas as fases, evoluindo junto com cada estágio de evolução do jogo.
Logo no início, no estágio celular, você controlava uma pequena criatura que lutava para sobreviver. Era simples, quase instintivo: comer ou ser comido. Suas escolhas – ser herbívoro ou carnívoro, atacar ou fugir – moldavam as bases para o que sua criatura se tornaria nas próximas etapas evolutivas. Esse início, com sua simplicidade quase primitiva, já entregava algo mágico. Era brincar com a evolução em sua forma mais pura.
Quando sua criatura emergia da água e dava os primeiros passos em terra firme, o jogo tomava outra dimensão. O estágio de criatura era onde muitos jogadores realmente se apaixonavam por Spore. Aqui, o Editor de Criaturas florescia, permitindo alterações detalhadas na anatomia: adicionar patas, asas, olhos ou criar algo completamente bizarro. Ver essas criações ganharem vida, interagir com outras espécies e explorar o mundo ao redor era como assistir a um sonho ganhar forma.
A transição para o estágio tribal marcava uma mudança. Deixava-se de ser uma criatura solitária para liderar uma tribo. Você podia ser diplomático ou guerreiro, gerenciando recursos e alianças como em um jogo de estratégia em miniatura. Embora o estágio tribal fosse bem interessante, para mim, a verdadeira mágica estava na fase seguinte: a civilização.
No estágio de civilização, Spore se transformava em algo próximo de Civilization ou SimCity, mas com a liberdade criativa que era a marca registrada do jogo. Essa sempre foi o meu estágio favorito, porque combinava estratégia com a possibilidade de deixar sua marca criativa em tudo que fosse construído. Criar veículos únicos – sejam eles tanques, navios ou aviões – e moldar o design das cidades era apenas o começo. Cada detalhe podia ser ajustado, desde a arquitetura dos edifícios até as características culturais do seu império, permitindo uma personalização quase infinita.
Mais do que isso, o estágio de civilização oferecia várias formas e estilos de expandir seu domínio, dependendo das escolhas que você fazia. Você podia conquistar cidades rivais com estratégias militares, utilizando seus veículos de guerra para invadir e tomar territórios. Alternativamente, era possível estabelecer rotas comerciais e crescer economicamente, comprando cidades menores ou enfraquecidas por meio da acumulação de riqueza – o que eu, particularmente, preferia. Para quem preferia uma abordagem mais pacífica, havia também a opção de converter cidades vizinhas por meio de crenças religiosas, usando unidades missionárias para influenciar outras culturas. Essa flexibilidade de métodos fazia com que cada partida fosse única, adaptada ao estilo do jogador. A diplomacia também tinha seu lugar, permitindo que alianças fossem formadas para proteger interesses comuns ou facilitar o crescimento econômico.
A sensação de ver sua civilização prosperar era incomparável. Assistir à transformação de pequenas vilas em metrópoles vibrantes, com sua identidade cultural e estética, trazia uma satisfação única. À medida que você avançava, era possível desbloquear tecnologias mais avançadas, incluindo superarmas capazes de mudar o rumo de uma partida. Era um estágio que, para mim, equilibrava perfeitamente criatividade e estratégia, permitindo que você experimentasse o que era liderar uma sociedade inteira com um toque pessoal e único.
Finalmente, o estágio espacial (galáctico) parecia a culminação de tudo. A ideia de explorar galáxias inteiras, colonizar planetas e interagir com civilizações alienígenas era incrível no papel. No entanto, ele tropeçava na repetição. As missões, que inicialmente pareciam promissoras, logo se tornavam mecânicas. Apesar disso, a escala e a possibilidade de revisitar o Editor de Criaturas para criar novas criaturas ou ajustar as existentes ainda ofereciam momentos de pura criatividade.
O legado de Spore é tão complexo quanto o próprio jogo. Ele trouxe ferramentas inovadoras de criação e uma experiência moldada tanto pelo jogador quanto pelo design. No entanto, enquanto The Sims, também obra de Wright, conquistava jogadores com a familiaridade do cotidiano, Spore ousava explorar o desconhecido. Mas essa ousadia acabou afastando parte do público que buscava algo mais imediato e menos conceitual.
É fato: nem todas as partes do jogo envelheceram bem, mas a nostalgia e a criatividade pulsante do jogo ainda ressoam. Afinal, quem nunca sonhou em criar um universo inteiro? Mas e você? Qual foi sua criatura mais memorável ou aquele planeta que marcou sua jornada em Spore?
domingo, 29 de dezembro de 2024
Mortal Kombat: Shaolin Monks
Mortal Kombat sempre carregou consigo combates intensos e Fatalities inesquecíveis, mas, ao longo dos anos, um ponto se tornou impossível de ignorar: a mobilidade dos jogos parecia estar presa no tempo. Seja na fase 3D de Mortal Kombat: Deception, na trilogia clássica do Super Nintendo, ou mesmo em experimentos como Mortal Kombat: Armageddon, o problema era o mesmo: movimentos duros, cenários mais decorativos do que funcionais, e pouca liberdade para explorar as arenas. Era frustrante. Mas, em 2005, o lançamento de Mortal Kombat: Shaolin Monks mudou tudo. Foi como se a franquia finalmente soltasse os grilhões e permitisse que os jogadores respirassem — e se movessem — de verdade.
Shaolin Monks pegou tudo que a série tinha de melhor e transportou para uma experiência completamente nova. Os combates, antes confinados, ganharam vida em ambientes tridimensionais que incentivavam não apenas a luta, mas a exploração. Pela primeira vez, a mobilidade deixava de ser um ponto fraco e se tornava o maior destaque do jogo. De maneira inédita, o sistema de combate agora permitia ataques contra múltiplos inimigos simultaneamente e combos que se conectavam com fluidez impressionante. Isso sem falar das habilidades que eram progressivamente desbloqueadas, ou seja, os ataques especiais absolutamente maneiro e viciantes, em especial os do Kung Lao. É uma sensação de liberdade inexplicável. Esse novo sistema também introduziu a interação com o ambiente como parte essencial da estratégia — arremessar inimigos em árvores que os devoravam ou usá-los para ativar armadilhas fazia com que cada batalha fosse mais dinâmica e criativa.
Na narrativa, Shaolin Monks reimaginava os eventos de Mortal Kombat II, expandindo a história clássica com novos detalhes e um enredo mais acessível. O jogo começava logo após o colapso da ilha de Shang Tsung, com Liu Kang e Kung Lao sendo lançados em uma jornada para impedir que o feiticeiro dominasse Earthrealm. No caminho, encontramos personagens icônicos como Scorpion, Baraka e Reptile, além de explorar cenários agora amplamente desenvolvidos, como a Floresta Viva, o Túmulo das Almas e o Outworld. Esses locais não eram apenas visualmente deslumbrantes; cada um tinha uma função prática e narrativa que reforçava a imersão.
E se jogar sozinho já era uma experiência incrível, o modo cooperativo levava tudo a outro patamar. Shaolin Monks é um daqueles raros jogos que entendem o que significa jogar com outra pessoa ao lado. Desde a coordenação para acessar áreas exclusivas até os ataques combinados que traziam uma sensação única de sincronia, o multiplayer local era tão bem pensado que parecia obrigatório experimentar o jogo dessa forma. A interação entre Liu Kang e Kung Lao, repleta de provocações e piadas, dava um tom mais leve e divertido, sem perder a intensidade do universo Mortal Kombat.
Outro aspecto que merece destaque é o cuidado da Midway em criar uma atmosfera inesquecível. Cada cenário, cada música e cada som contribuíam para um mundo que se sentia vivo, mas ao mesmo tempo sombrio e ameaçador. A trilha sonora misturava instrumentos orientais e composições sinistras que reforçavam o tom marcial e místico do jogo. Além disso, elementos de jogos metroidvania foram adicionados de forma sutil, com habilidades como saltos duplos, corrida em paredes e destruição de estátuas que permitiam explorar áreas previamente inacessíveis. Essa camada extra de exploração ampliava o tempo de jogo e a sensação de recompensa ao descobrir segredos escondidos.
É curioso pensar como Shaolin Monks conseguiu acertar em tantos aspectos que outros títulos da série falharam. Desde a jogabilidade fluida até a forma como reimaginou o enredo de Mortal Kombat II, o jogo provou que a série não precisava ser limitada a arenas fixas e combates um contra um. Onde jogos como Deception e Armageddon ainda tropeçavam em ambições excessivas, Shaolin Monks entregou uma experiência coesa e marcante. Quase vinte anos depois, ele continua a ser um ponto fora da curva na franquia, lembrado com carinho e saudade pelos fãs. Não é à toa que, mesmo agora, muitos clamam por um remake ou uma sequência que capture a mesma ousadia criativa.
Shaolin Monks não foi apenas um spin-off; foi o único jogo da série a oferecer mobilidade real, e é isso que o torna um clássico tão especial.
sábado, 28 de dezembro de 2024
Crash Tag Team Racing
Quando se fala na memorável saga "Crash Bandicoot", é quase impossível não se perder nas memórias dos clássicos. Aqueles primeiros jogos da trilogia original, com suas fases desafiadoras e uma nostalgia insubstituível, têm um lugar cativo no coração de muitos. Mas se há um título da franquia que ousou romper barreiras e inovar por completo, esse título é, sem dúvida, "Crash Tag Team Racing" (2005). Você não está entendendo: ele não é apenas inovador, mas, efetivamente, o mais inovador de todos os jogos da saga Crash, chegando a ser, ao menos para mim, um dos melhores jogos de PlayStation 2, ao lado de GTA: San Andreas e Mortal Kombat: Shaolin Monks.
O que realmente destaca Crash Tag Team Racing (CTTR) no mundo dos jogos de corrida é o seu sistema de fusão de karts, conhecido como clashing. Imagine o cenário: no calor da corrida, você não está apenas tentando ultrapassar seus oponentes — você tem a opção de unir forças com um deles. E não de maneira simbólica, mas literalmente, fundindo os veículos com uma torre de armas personalizadas, pronta para o combate. É um conceito que mistura adrenalina com estratégia, pedindo que o jogador tome decisões rápidas: será que é hora de atacar com tudo ou voltar a focar na velocidade? O detalhe mais interessante é que cada personagem traz sua assinatura para essa fusão, oferecendo armas únicas que refletem suas personalidades. Isso transforma o simples ato de escolher um oponente para o clashing em um jogo dentro do jogo, onde você precisa pensar não só em quem está à sua frente, mas também no tipo de vantagem que aquela fusão pode oferecer.
O verdadeiro brilho do jogo está em como ele equilibra perfeitamente o mundo das corridas com um mundo aberto de tirar o fôlego. O parque de diversões não é apenas um pano de fundo do jogo; é um protagonista por si só. Dividido em áreas temáticas – desde o Egito Antigo até o Espaço Sideral –, cada uma com sua identidade visual, detalhes minuciosos e segredos escondidos, o parque é um convite à exploração. Aqui, o jogo entrega algo que poucos títulos conseguem: mobilidade. Caminhar pelo parque, interagir com NPCs excêntricos e desbloquear pequenos segredos é tão fluido e natural que, por vezes, você se esquece de que está jogando um game de corrida. É como se CTTR fosse o equivalente de Mortal Kombat: Shaolin Monks no universo de Crash — uma obra prima de mobilidade e mundo aberto.
E que trilha sonora! Entre tantas composições incríveis, Happily Ever Faster se destaca como uma joia. Ela não é apenas uma música; é um encantamento, quase totalmente à capela. Aqueles vocais “LaLaLaLaLa” são uma verdadeira canção de ninar nostálgica, transportando os jogadores diretamente para a atmosfera fantástica e misteriosa da área temática de contos de fadas do parque. Até hoje, basta ouvir os primeiros acordes para sentir aquele arrepio de infância. Não é à toa que essa faixa continua sendo celebrada por fãs no YouTube, com comentários que, mesmo quase 20 anos depois, transbordam de emoção.
A narrativa também não fica atrás no quesito criatividade. Desde o começo, quando o jogo te coloca no parque, você não percebe é que o vilão está ali o tempo todo, camuflado, te enganando a cada interação. Esse plot twist é brilhante e dá um toque de genialidade à história, transformando o desenrolar do jogo em uma experiência ainda mais memorável.
Outro destaque de CTTR é o modo Stunt Arena (Arena de Acrobacia), mais uma uma inovação única. Nesse modo, os jogadores são desafiados a realizar manobras acrobáticas radicais com os karts. Cada movimento realizado – sejam giros ousados, flips precisos ou saltos espetaculares – rende pontos que variam conforme a complexidade e a execução. Mas o verdadeiro charme desse modo está no convite constante à experimentação, desafiando o jogador a se superar a cada tentativa. Mais do que isso, o Stunt Mode também recompensa a dedicação, permitindo desbloquear novos personagens e veículos, o que amplia ainda mais o horizonte de possibilidades no jogo. A possibilidade de jogar o modo em multiplayer transforma a competição em um espetáculo. Com esse modo, CTTR reafirma sua essência inovadora, mostrando que não se contenta com o básico.
Por fim, há algo mágico em revisitar Crash Tag Team Racing. Não importa quantos anos passem, ele nunca perde o brilho, nunca envelhece. É um daqueles jogos que chamam você de volta, de novo e de novo, e sempre conseguem arrancar um sorriso. Para mim, é o melhor Crash de todos. Não apenas um jogo inesquecível, mas uma peça de arte que capturou perfeitamente o espírito de diversão, criatividade e inovação que define o universo de Crash Bandicoot.
domingo, 15 de dezembro de 2024
O Beijo do Vampiro (2002)
O ano era 2002. Eu tinha apenas 6 aninhos, mas não perdia um episódio. Hoje, aos 28, estou reassistindo pela primeira vez essa obra-prima da cinematografia brasileira dos Anos 2000. Na análise de hoje, vou apresentar tudo — e mais um pouco — sobre a novela que marcou minha infância de forma irreversível. Embora eu seja suspeita para falar, já que "O Beijo do Vampiro" (2002–2003) ocupa um lugar especial no meu coração nostálgico, tentarei mostrar por que essa novela entrou para a história da TV brasileira, revolucionando-a como nenhuma outra.
Assistir O Beijo do Vampiro era como abrir um livro de contos góticos enquanto, ao fundo, tocava a trilha sonora da vida cotidiana brasileira. A novela, exibida pela TV Globo entre 2002 e 2003, parecia destinada a deixar uma marca ao misturar romance, comédia e elementos sobrenaturais de uma maneira que ninguém imaginava ver no horário das sete. Antônio Calmon, com sua escrita única, e a direção afiada de Roberto Naar e Marcos Paulo, criaram algo que era ao mesmo tempo leve e carregado de um simbolismo irresistível.
Tudo começa com Cecília (Flávia Alessandra), uma princesa medieval reencarnada como Lívia, mãe do protagonista, em pleno século XXI. O destino dela se enrosca, de novo, com o vampiro Bóris Vladescu (Tarcísio Meira), seu amor eterno e nem tão romântico assim. Bóris, de volta à vida de Lívia após séculos, não quer apenas reacender a chama desse amor proibido — ele também tem planos maiores envolvendo o filho dela, Zeca (Kayky Brito), meio-vampiro e futuro herdeiro de um legado sombrio.
Zeca, ou José Carlos, é um garoto de 12 anos que, ao se aproximar de seu 13º aniversário no dia das bruxas, enfrenta um dos dilemas mais profundos da novela. Filho biológico do vampiro Bóris Vladescu, mas criado com amor por Lívia, ele vive uma batalha constante entre o bem e o mal. Sua índole genuinamente boa, marcada por honestidade e coragem, contrasta fortemente com o destino sombrio que o aguarda: tornar-se o Príncipe das Trevas, mais poderoso que o próprio Bóris. Apesar de herdar instintos cruéis de seu pai, os valores transmitidos por sua mãe e sua força moral permitem que Zeca desafie seu destino, mesmo quando descobre habilidades sobrenaturais, como ler pensamentos e controlar outros vampiros. A atuação genial de Kayky Brito dá vida a esse conflito interno, capturando com perfeição o terror de Zeca em sucumbir ao lado sombrio e a bravura necessária para lutar por sua humanidade.
Mas não era só isso. A trama sabia como entrelaçar humor, drama e fantasia de uma maneira fascinante. Enquanto Galileu (Luis Gustavo), o atrapalhado caçador de vampiros, garantia momentos cômicos com seu charme desajeitado, sua parceria com Zoroastra (Glória Menezes) elevava a narrativa. Zoroastra, uma figura excêntrica e mediúnica, dona de uma pensão e fascinada por esoterismo, não só era uma avó protetora e cheia de camadas emocionais, mas também uma aliada poderosa contra as forças das trevas. Além disso, o embate entre bem e mal ganhava força com a chegada de Ezequiel, o anjo guardião disfarçado de padre, que vai à cidade sob o pretexto de reformar a igreja, mas na realidade trava uma batalha mitológica contra Bóris e outros vampiros. Essa luta, por sua vez, encontra na alquimia e nas magias de Zoroastra um elo poderoso com o paganismo e forças místicas do bem.
Entre os destaques de O Beijo do Vampiro, Mina d'Montmartre, vivida por Claudia Raia, brilhou como uma vampira sofisticada e poderosa. Seu visual icônico, marcado por figurinos dramáticos inspirados nas criações góticas de Thierry Mugler, trazia uma combinação de rendas, bordados e tecidos luxuosos, sempre em tons de vinho, preto e roxo. A personagem, contudo, passou por adaptações únicas: devido à gravidez de Claudia durante as gravações, seus trajes foram ajustados sem perder a essência estilística. Além disso, a maquiagem marcante, com olhos delineados e próteses detalhadas, criava uma transformação impressionante em cenas que exigiam uma aparência envelhecida ou sobrenatural. Mina não apenas cativava pelo visual, mas também simbolizava a tensão entre sensualidade e mistério que permeava a trama.
A fictícia cidade de Maramores, construída nos estúdios da Globo (chamados, à época, de Projac), era mais do que um cenário: era um personagem vivo da narrativa. Dividida em duas áreas distintas, a cidade tinha uma parte antiga, com arquitetura inspirada em Praga (Capital da República Checa), marcada por vielas, becos e uma ponte que parecia saída de um conto gótico. Já a parte moderna era litorânea, com praias que contrastavam com o ar medieval do outro lado, criando um equilíbrio visual fascinante. Essa dualidade refletia as tensões da trama entre o passado sombrio e o presente vibrante.
A trilha sonora foi um dos pilares da atmosfera espiritual e mitológica da novela. Canções como "Ameno - Remix ERA", "Forgive - Vater Unser" e "Fairy Tale - Shaman" capturaram a essência da luta entre luz e trevas, evocando um cenário que mistura o maniqueísmo mitológico do cristianismo, com suas figuras angelicais como Ezequiel, e a espiritualidade pagã representada por Zoroastra e suas práticas alquímicas. As músicas transcenderam o simples entretenimento, criando uma aura de mistério e tensão que intensificava cada momento dramático.
Sem falar nas influências estéticas que flertavam com o gótico e o medieval, evocando inspirações como Drácula de Bram Stoker (1992) e O Baile dos Vampiros (1967). Tudo isso resultou numa mistura de mistério, leveza e um toque contemporâneo. O núcleo dos vampiros trazia detalhes curiosos: dilemas éticos sobre substituir sangue humano por “importado” e até o uso de cremes anti-água benta quebravam clichês com humor. Ainda assim, elementos universais, como puberdade e conflitos familiares, se entrelaçavam à narrativa, dando um toque de humanidade às tramas sobrenaturais.
Por fim, ainda havia aquela conexão nostálgica com Vamp (1991), outra novela que marcou época. Apesar de não ser uma continuação direta, O Beijo do Vampiro não resistiu a pequenos acenos à predecessora, como o retorno de Ney Latorraca, agora no papel de Nosferatu. Essa brincadeira de referências era a cereja no bolo para os fãs mais atentos. (Inclusive, o renomado ator e diretor faleceu aos 80 anos poucos dias após eu publicar esse post.)
É importante mencionar que, antes de cada episódio de O Beijo do Vampiro, atualmente, o Globoplay mostra o seguinte aviso: "Esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada". É uma introdução necessária, já que, em diversos momentos, o humor da novela traz nuances que hoje soam problemáticas, com piadinhas que incorporam homofobia, racismo e machismo. Claro, é preciso cuidado para não cair em anacronismos; afinal, a trama reflete os valores e a mentalidade predominante do início dos Anos 2000. Ainda assim, esse tipo de disclaimer mostra uma preocupação em contextualizar o conteúdo, oferecendo aos espectadores a chance de revisitar a obra com um olhar mais crítico e alinhado às discussões sociais de hoje.
Ao revisitar a novela 22 anos após sua estreia original, embora seja impossível ignorar seus defeitos anacrônicos, O Beijo do Vampiro continua se destacando pela qualidade narrativa e de produção. Os diálogos, muito bem escritos, e a trilha sonora impecável são elementos que, ao lado do cuidado com figurinos e cenografia, deixam muitas produções atuais no chinelo. Assistir hoje, com 28 anos, revela não apenas a nostalgia, mas também o quanto essa obra permanece relevante e cativante para quem gosta de uma boa história que mistura emoção, fantasia e um toque de humor — tudo isso envolto em uma narrativa que, ao mesmo tempo, evoca o gótico, o místico e as nuances da luta eterna entre bem e mal.
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
RollerCoaster Tycoon [1 & 2]
Lá por 2004, quando a internet ainda não era algo tão acessível para a maioria da classe média no Brasil, ter alguns jogos instalados no PC era quase uma necessidade. Eu me virava com Donkey Kong Country 3 e The Sims 1, dois clássicos que deixaram memórias fortes. Mas, em um dia qualquer, um amigo do meu irmão apareceu com um CD-ROM misterioso, com um título chamativo: RollerCoaster Tycoon. E foi aí que eu conheci um novo universo de simulação – mais complexo até que o The Sims 1 –, todo colorido, cheio de desafios de finanças, marketing e aquela atmosfera autêntica de parque de diversão, especialmente na trilha sonora inesquecível. A ideia de poder criar e gerenciar um parque inteiro com todos os seus altos e baixos foi um encanto imediato e intrigante.
Quando o desenvolvedor Chris Sawyer lançou RollerCoaster Tycoon em 1999, a série rapidamente virou um clássico no mundo dos jogos de simulação. O jogo não foi apenas mais um dentro do gênero. Ao lado de outros títulos icônicos como SimCity, ele ajudou a estabelecer um novo patamar para os jogos de simulação em jogabilidade e profundidade. O primeiro título trouxe desafios instigantes e um sistema de progressão bem elaborado, onde você precisava atingir metas específicas, como aumentar o número de visitantes ou o valor do parque. A liberdade para desenhar montanhas-russas, personalizar cada atração e gerenciar as finanças com precisão dava uma sensação de controle única.
A criação de RollerCoaster Tycoon envolveu um feito técnico impressionante. Chris Sawyer escreveu praticamente todo o código em Assembly x86, uma linguagem rudimentar que, embora seja mais próxima ao hardware, exige uma habilidade técnica intensa para ser programada. Isso permitiu que o jogo rodasse com fluidez em computadores mais modestos da época, tornando possível a execução de simulações de variáveis complexas em tempo real sem comprometer o desempenho. Sawyer projetou algoritmos específicos para o comportamento dos visitantes, garantindo que cada ação deles, como buscar rotas ou reagir a atrações, fosse processada de forma eficiente em termos de código. Esse tipo de otimização, combinado com gráficos detalhados criados por Simon Foster, deu ao jogo um estilo visual único e uma performance difícil de superar, que se tornou referência para desenvolvedores até hoje.
O que sempre me chamou a atenção é como RollerCoaster Tycoon consegue ser uma mistura de estratégia com design, estética, arquitetura e até urbanismo. Não se trata apenas de jogar; ao criar um parque, você se vê em uma jornada que equilibra criatividade com viabilidade econômica. Cada atração precisa ser pensada não só pelo visual, mas pelo custo, retorno financeiro e até a manutenção. Essa combinação entre liberdade criativa e uma simulação econômica tão precisa se tornou uma marca registrada do jogo e inspirou títulos da franquia como Planet Coaster e Zoo Tycoon a seguirem o mesmo caminho.
Na minha opinião e experiência, RollerCoaster Tycoon acaba sendo um jogo realmente difícil, pois é muito mais uma simulação propriamente dita (no seu sentido realista e educativo) do que um entretenimento fácil de consumir. Por isso, acredito que a maior parte dos jogadores convencionais (mainstream/vanilla) não se adaptariam a esses dois primeiros clássicos da franquia, hoje em dia. Eu mesma, quando tento voltar a jogar, rapidamente me enrolo na complexidade da simulação e logo perco o interesse. A curva de aprendizado e a exigência de constante atenção aos detalhes fazem com que o jogo demande um foco que é raro em games de simulação atuais, onde a ênfase geralmente recai em experiências mais acessíveis e visualmente simplificadas.
Com isso, RollerCoaster Tycoon se firma, mais uma vez, como um desafio de estratégia robusta que testa tanto o raciocínio lógico quanto a capacidade de planejamento a longo prazo do jogador. Em sua análise para o SubpixelFilms, Jake Theriault comenta como o jogo "prospera no caos", destacando o desafio de controlar visitantes imprevisíveis. É isso que diferencia RollerCoaster Tycoon de tantos outros jogos de estratégia, quase como se estivéssemos em uma batalha silenciosa contra a anarquia que cada visitante carrega. Como bem aponta o artigo da Monique Silva para o LaunchPad Lab, RollerCoaster Tycoon é praticamente uma "aula de negócios, produto e design". Cada cenário traz metas bem definidas, fazendo o jogador pensar em cada movimento estratégico. Os visitantes, com suas preferências variadas e exigências, se tornam uma fonte constante de feedback, forçando a gente a ajustar os planos e a repensar as táticas a todo instante.
Mais do que construir parques, jogar RollerCoaster Tycoon foi uma lição valiosa sobre empreendedorismo. O jogo ensina conceitos como física, economia e até mesmo gestão. Ao projetar montanhas-russas, por exemplo, é preciso pensar em forças verticais e laterais, velocidade e gravidade – tudo para garantir segurança e emoção, aplicando conceitos de física que muitas vezes só vemos na teoria. E na parte financeira, é um verdadeiro curso sobre fluxo de caixa, como manter filas curtas e aumentar o lucro das atrações. A série teve um impacto significativo para muita gente da minha geração, despertando o interesse por áreas como engenharia e administração. Ela nos dava a chance de experimentar com design, construção e gestão empresarial em um ambiente seguro e divertido, uma verdadeira porta de entrada para essas áreas.
Os gráficos pixelados e o estilo isométrico de RollerCoaster Tycoon têm um charme próprio, que captura aquela nostalgia inigualável dos jogos do início dos anos 2000. A paleta vibrante e os efeitos sonoros – desde os gritos dos visitantes nas montanhas-russas até o tilintar de moedas nos quiosques – eram simples, mas funcionavam muito bem em dar vida ao parque.
Com RollerCoaster Tycoon 2, lançado em 2002, vieram novas ferramentas, como o editor de cenários e atrações, além da possibilidade de criar parques inspirados em lugares reais, deixando o jogo ainda mais envolvente. Entre os aprimoramentos mais marcantes estão as novas atrações aquáticas e as opções de decoração temáticas, que possibilitam a criação de ambientes personalizados e imersivos. Elementos como cascatas, fontes e detalhes aquáticos complementam as atrações e aumentam o apelo visual do parque, permitindo que os jogadores criem ambientes personalizados e majestosos. Eu me lembro, quando criança, de visitar meu melhor amigo do ensino fundamental na lan-house da mãe dele e, no computador dos fundos, ver ele jogando RollerCoaster 2, ficando amarradona com as decorações aquáticas e novos brinquedos temáticos, como o Cinema. Era o futuro!
Para a comunidade de fãs, RollerCoaster Tycoon nunca perdeu sua magia, e essa paixão se concretizou no projeto OpenRCT2. Esta versão de código aberto do clássico é mantida por entusiastas que se dedicam a expandir e aprimorar o jogo original. OpenRCT2, a versão moderna e otimizada de RollerCoaster, traz melhorias importantes, como suporte para altas resoluções, correções de bugs e até um modo multiplayer, permitindo que jogadores colaborem na criação de parques em tempo real. Além disso, ele oferece ferramentas para criar novos conteúdos personalizados, garantindo que a criatividade e a inovação permaneçam centrais no universo de RollerCoaster Tycoon.
Revisitar RollerCoaster Tycoon é abrir um álbum de memórias. Cada parque criado, cada objetivo alcançado, remete a uma época em que a criatividade fluía sem limites. Esse jogo de estratégia, que atravessou gerações, continua a ensinar e a inspirar, mostrando que a diversão pode ser muito mais do que simples entretenimento – pode ser uma verdadeira escola para a vida. Em cada cenário, o jogo nos desafia a planejar, resolver problemas e administrar recursos, lições que ultrapassam a tela e que até hoje atraem novos jogadores ao mundo de RollerCoaster Tycoon.
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
Resident Evil 1 (PS1)
Eu me lembro bem das noites em que eu, ainda criança, espiava meu irmão mais velho jogar Resident Evil 1 no PlayStation. Nunca cheguei a segurar o controle na época, mas assistir da segurança de um canto da sala já era o suficiente para sentir um frio na espinha. Aquele universo sombrio e meticulosamente construído me cativava: as criaturas perturbadoras, as estátuas imponentes, a ameaça da planta carnívora e o enigma das joias do olho do tigre. Era fascinante. De certa forma, parecia que eu também estava lá, explorando cada corredor escuro e misterioso, mesmo que de longe. Revisitar esse clássico hoje em dia é como abrir um álbum de memórias macabras, voltando ao mesmo tempo para uma época de pura curiosidade e medo genuíno.
Lançado em 1996 pela Capcom, Resident Evil 1 marcou o nascimento de um gênero que viria a definir a essência do horror nos videogames: o survival horror. A trama começa com a equipe Bravo da S.T.A.R.S. desaparecendo misteriosamente nas Montanhas Arklay. Em resposta, a equipe Alpha é enviada para investigar, composta por personagens icônicos como Chris Redfield e Jill Valentine. Em uma série de reviravoltas, eles se veem presos em uma mansão sinistra e repleta de segredos. A escolha de um cenário como a mansão Spencer não foi por acaso; sua arquitetura labiríntica e enigmas intrincados contribuíam para a sensação de estar em um lugar genuinamente real, mas ao mesmo tempo absurdamente perigoso. Essa escolha de design reflete a intenção do jogo de tornar cada elemento o mais imersivo possível, um aspecto que ficou marcante e até peculiar na série, como o uso de ervas medicinais e máquinas de escrever para salvar o progresso, criando um senso quase paradoxal de realismo fantástico ou de fantasia realista.
O jogo te dá a opção de escolher entre Chris ou Jill, e cada um oferece desafios únicos. Enquanto Chris é mais resistente, ele possui um inventário menor e precisa de mais chaves; já Jill tem mais espaço para itens e conta com habilidades de desbloqueio. Ah, e claro, ela ainda tem a ajuda de Barry Burton em momentos cruciais. A visão de câmeras fixas e os cenários pré-renderizados contribuem para um clima claustrofóbico que é a cara do jogo — nunca sabemos o que está à espreita logo fora do campo de visão. Essa incerteza é intensificada pelo sistema de inventário limitado, onde cada escolha de item pode ser crucial para a sobrevivência. Embora esse gerenciamento rígido de recursos possa parecer um tanto arcaico para alguns jogadores modernos, ele é parte fundamental do DNA de Resident Evil, evocando um senso de urgência e tensão que poucos jogos conseguem replicar.
Resident Evil 1 não é apenas sobre monstros e tiros; é também sobre enigmas desafiadores e engenhosos. Quem não se lembra do enigma do relógio na sala de jantar, onde os ponteiros precisam ser alinhados para revelar um compartimento secreto? Ou da sala dos emblemas, em que partituras musicais e trocas estratégicas entre itens revelam novas passagens? E claro, a Planta 42, um monstro vegetal mutante que cresceu descontroladamente após o vazamento do T-Virus. Trata-se de um inimigo formidável que exige mais do que força bruta para ser derrotado. Seu enigma complexo de substâncias químicas precisa ser resolvido com precisão, criando uma mistura específica que enfraquece suas raízes. Um erro na ordem de criação pode resultar em um composto tóxico, colocando o jogador em risco, o que torna essa batalha ainda mais tensa e desafiadora. Esses enigmas minuciosos, juntamente com a sensação de terror psicológico, são o que tornam o jogo uma experiência verdadeiramente única, com um toque de excentricidade que mais tarde se tornaria um marco da franquia.
A atmosfera de Resident Evil 1 é uma aula de construção de tensão. Com cenários pré-renderizados, ângulos fixos de câmera e uma trilha sonora que arrepia, o jogo te envolve por completo. Cada som, desde os passos ecoando nos corredores até as portas rangendo, contribui para o terror. E os corredores escuros e estreitos? Esses, sem dúvida, são um dos elementos mais marcantes, transformando a mansão Spencer em um personagem à parte. É impossível esquecer o impacto cultural desse jogo, que não só estabeleceu novos padrões para o gênero, mas também lançou uma franquia que atravessou gerações. No Brasil, o jogo foi um fenômeno, e muitos jogadores — eu incluída — ainda têm memórias vívidas da adrenalina e do medo que ele proporcionava. Mesmo os elementos mais "bizarros", como a inclusão de máquinas de escrever para salvar o jogo, se tornaram símbolos nostálgicos, refletindo a abordagem quase 'esquemática' do design do jogo, que misturava o real com o surreal de maneira icônica.
Foram feitas duas remasterizações do jogo que redefiniram a experiência de Resident Evil para diferentes gerações. O Resident Evil Remake, lançado em 2002 para o Nintendo GameCube, reinventou o clássico de 1996 ao elevar sua atmosfera e mecânicas a um novo nível, trazendo gráficos detalhados, ambientes expandidos e novos desafios. Essa versão manteve a essência do original, mas adicionou camadas de tensão e complexidade, com controles mais fluidos e um design de cenários ainda mais imersivo, além de enigmas aprimorados para desafiar tanto veteranos quanto novos jogadores. Já em 2015, o Resident Evil HD Remaster modernizou ainda mais essa reimaginação, adaptando-a para plataformas contemporâneas com gráficos em alta definição, iluminação refinada e suporte a controles analógicos. As melhorias técnicas, como texturas em 1080p e áudio remasterizado, trouxeram uma sensação renovada de claustrofobia e horror, garantindo que a obra permanecesse tão intensa e envolvente quanto no lançamento original.
Há algumas diferenças entre as versões. Por exemplo, no memorável enigma da estátua do tigre. No Resident Evil original de 1996, a inscrição "Alguns tigres possuem um olho vermelho e um olho azul" dá a pista para os jogadores inserirem as gemas azul e vermelha nas órbitas oculares da estátua. Colocar a gema azul revela o Wind Crest, um emblema que o jogador precisa coletar para avançar em áreas específicas do jogo, enquanto a gema vermelha, que é opcional, libera a Colt Python — uma das armas mais poderosas, perfeita para lidar com os inimigos mais desafiadores. Já no Resident Evil Remake de 2002, a dinâmica muda: a gema azul continua obrigatória, mas a vermelha é substituída pela amarela, que libera um Disquete MO, usado para destravar portas de segurança e salvar Jill, garantindo o melhor final do jogo.
Por outro lado, Resident Evil 4, lançado em 2005, representou – para mim e para os fãs mais nostálgicos – uma ruptura tão grande na série que quase poderia ser um jogo completamente diferente, talvez até com outro nome. Enquanto os três primeiros títulos abraçavam o horror psicológico, com suas câmeras fixas, recursos escassos e ambientes opressivos, o quarto jogo adotou uma abordagem mais voltada para a ação, ao substituir o terror mais lento e psicológico por uma ação intensa e uma câmera sobre o ombro, algo inédito na franquia até então. Também houve a implementação de cenários mais abertos e uma iluminação mais clara, diminuindo a sensação de suspense. Apesar de entender o apelo desse novo formato, sinto que o ritmo mais frenético acabou diluindo a essência do terror original que tanto definia a série. Reconheço que Resident Evil 4 é tecnicamente excelente, mas essa transição comprometeu a continuidade estética e narrativa da franquia. Curiosamente, muitos o consideram um dos melhores jogos dentre todos, como argumentado pelo canal JJ, em um vídeo intitulado "Resident 4 é uma obra de arte". Nele, o youtuber enfatiza como o jogo trouxe gráficos impressionantes e uma cinematografia marcante. Ele também ressalta os inimigos mais agressivos, a atmosfera envolvente e uma jogabilidade mais fluida e dinâmica, características que não apenas redefiniram Resident Evil, mas também influenciaram profundamente os jogos de ação e terror que vieram depois.
De todo modo, revisitar Resident Evil 1 é como voltar no tempo e mergulhar de novo naquela sensação de tensão e mistério que marcou uma era. É mais do que apenas um jogo; é um pedaço da história do horror nos videogames, uma obra que, mesmo com gráficos datados, ainda consegue despertar o mesmo tipo de medo e admiração. Para mim, é um clássico que merece estar no hall da fama do gênero, não apenas por sua importância histórica, mas pelo impacto emocional que ainda carrega. Mesmo com todas as suas “rugas” e excentricidades, como as plantas medicinais que lembram um toque de alquimia bizarra, é exatamente esse charme peculiar que faz Resident Evil ser tão memorável até hoje.
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
Hylics
O ano era 2016. Lá estava eu, ainda na universidade, quando minha melhor amiga à época, Belle, com quem sempre dividi gostos bem peculiares, me disse: "Preciso te mostrar um jogo." Ela apareceu na minha casa com o notebook, sorrindo de um jeito misterioso, e me apresentou algo que parecia de outro planeta. E foi assim que conheci Hylics, o primeiro jogo surrealista que vi na vida. Ali, naquele instante, não era só um jogo que eu estava descobrindo. Era como entrar numa experiência, algo que desafia tudo que eu conhecia até então.
Hylics é como um sonho estranho do qual você não consegue escapar. Ele te faz questionar o que é real, se é que importa saber o que é real. Criado por uma única pessoa, Mason Lindroth, em 2015, esse RPG por turnos não segue as regras que estamos acostumados. Lindroth não só fez toda a arte e programação, mas também modelou personagens em argila, animou manualmente e digitalizou cada elemento para compor o mundo surreal do jogo. Até parte da trilha sonora foi obra dele. E como se não bastasse, ele usou diálogos gerados por procedural generation – um processo que utiliza algoritmos para criar conteúdo de maneira dinâmica e aleatória – o que só intensifica o toque abstrato e desconcertante. Isso tudo resulta em um jogo tão único que parece uma viagem a um lugar que não deveria existir.
Você assume o controle de Wayne, um protagonista com formas perturbadoras, e passa a explorar um universo que mais parece uma colagem de sonhos caóticos. Os diálogos são desconexos, quase sempre incompreensíveis. Mas essa é a magia: você não está ali para entender da maneira tradicional. Não existem explicações fáceis, muito menos tutoriais. Você precisa sentir, deduzir ou simplesmente se deixar levar pela correnteza dos eventos. No jogo, até mesmo a morte é uma passagem, não o fim. Wayne é reconstituído numa espécie de televisão biológica, e o ciclo de destruição e renascimento se torna quase uma metáfora filosófica sobre a efemeridade da vida.
A trilha sonora de Hylics, composta por Chuck Salamone, é um dos grandes destaques do jogo. Ao combinar elementos de rock progressivo com sons experimentais, Salamone criou uma música que acompanha o visual psicodélico do jogo de forma impecável. As faixas não seguem o padrão típico de trilhas sonoras de videogames, trazendo sons distorcidos, como se estivessem "derretendo" junto com as cores e formas na tela. Essa trilha intensifica a sensação de estranheza, como se cada nota estivesse em sintonia com o caos visual. A música não apenas acompanha, mas parece dançar com as imagens, completando a experiência sensorial de forma única e inesquecível.
Em 2020, Hylics 2 chegou. Mason Lindroth manteve seu estilo artístico singular, mas elevou a experiência ao introduzir uma transição para o ambiente 3D. O uso de modelos de argila digitalizados em 3D e animação em stop-motion trouxe ainda mais profundidade e textura ao mundo do jogo, transformando a sensação já psicodélica do primeiro em algo ainda mais imersivo. Essa mudança para o 3D também permitiu novas mecânicas, como pulos, deslizes e até viagens de airship, o que expandiu a fluidez da movimentação. O resultado é um universo tridimensional que parece uma "colagem viva", onde cada cena vibra com vida e distorção.
No aspecto da jogabilidade, embora o combate ainda seja baseado em turnos como no primeiro jogo, ele ganhou mais profundidade tática. As animações dos ataques e habilidades especiais ficaram mais refinadas, tornando cada batalha visualmente mais rica. Toda essa evolução estética e mecânica fez de Hylics 2 um marco no design de jogos indie, amplamente elogiado pela sua originalidade e pela ousadia de manter-se tão desconectado das convenções tradicionais.
No fim das contas, Hylics e Hylics 2 vão além de serem apenas jogos. Eles são experiências filosóficas e sensoriais. Não te oferecem respostas fáceis — aliás, não te oferecem resposta nenhuma, na maioria das vezes. O que torna Hylics tão especial é justamente isso: o convite para abraçar o mistério, para se render à estranheza e à beleza do desconhecido. Assim como foi para mim, em 2016, essa pode ser uma experiência inesquecível.