terça-feira, 10 de setembro de 2024

A Bug's Life


Lembro claramente da mágica de jogar "A Bug's Life" (Vida de Inseto) no PlayStation 1 do meu irmão. Não, eu não estava lá em 1998, quando o jogo lançou — afinal, eu tinha apenas dois anos. Mas, à medida que cresci, o PlayStation 1 continuou sendo o rei das nossas tardes, e esse jogo, em particular, virou uma peça chave das minhas memórias de infância. Eu adorava tudo: das cores vibrantes aos barulhinhos característicos e inesquecíveis da sonoplastia. E como não mencionar as sementes? Elas eram o coração do gameplay: você as plantava para resolver quebra-cabeças e superar obstáculos, transformando-as em folhas para pular mais alto ou plantas que lançavam ataques. Para uma criança, aquilo era pura magia e estratégia. Era simples o suficiente para que eu ficasse completamente absorta por horas a fio.

Revisitar esse jogo como adulta foi como uma viagem no tempo. Mas, ao mesmo tempo, um banho de realidade. A nostalgia bateu forte ao ouvir os sons e rever os cenários coloridos, mas bastou controlar o Flik um pouco para a mágica começar a se dissipar. Os gráficos, que um dia me pareceram incríveis, agora se mostram como uma relíquia desbotada. As texturas toscas e formas simples mal conseguem transmitir a beleza que meus olhos de criança capturavam. Na época, o jogo até foi elogiado pela sua estética colorida, mas, comparando com outros títulos da mesma época, como Toy Story 2 e Tarzan, ele claramente ficou para trás em sofisticação gráfica.

Mas ok, sabemos que a maioria dos jogos do PS1 não envelheceu bem visualmente. O verdadeiro choque veio mesmo quando eu tentei controlar o Flik. Aquilo que, na infância, parecia intuitivo e divertido, hoje se revela um pesadelo. O Flik se move como se estivesse correndo em areia movediça, com uma resposta lenta e pesada aos comandos. E a câmera? Ah, a câmera tem vida própria. Muitas vezes, ela simplesmente te deixa na mão, posicionando-se em ângulos que fazem você perder completamente a noção do cenário. Era frustrante na época e hoje é quase insuportável.

Os críticos do passado já apontavam esses problemas: jogabilidade simplificada demais e controles lentos. Mas, hoje, esses defeitos saltam ainda mais aos olhos. O que deveria ser uma experiência divertida acaba virando algo estressante. Toda vez que o Flik não respondia como eu queria, ou a câmera me deixava sem visão, o estresse ia se acumulando. Não o suficiente para desistir do jogo, mas aquele tipo de estresse que te faz suspirar fundo e seguir em frente porque, apesar de tudo, Vida de Inseto ainda tem seu charme.

E o charme está, sem dúvida, na atmosfera. A trilha sonora, mesmo não sendo tão marcante quanto as músicas do filme, ainda é reconfortante. Os efeitos sonoros e as vozes retiradas diretamente do filme ajudam a manter a imersão, criando aquela sensação de aventura leve, infantil. Mesmo com todas as limitações, os sons têm aquele quê de nostalgia que te transporta de volta para os dias de infância. A trilha em si pode não ser memorável, mas faz bem o trabalho de ambientar a ação.

Naquela época, eu nem ligava para essas frustrações. Eu só queria plantar minhas sementes e derrotar os gafanhotos. E o jogo me dava exatamente isso. Mas, jogando agora, é impossível ignorar as falhas gritantes. Ainda assim, há algo a ser dito sobre a simplicidade dos níveis. Com suas 15 fases, o jogo segue de perto os eventos do filme, até utilizando clipes do filme para avançar a história. Essa conexão com o filme era um grande atrativo para mim, uma forma de reviver a aventura de Flik.

No fim das contas, Vida de Inseto tem um lugar garantido no panteão dos jogos que marcaram minha infância. Ele pode não ser tecnicamente impressionante ou sofisticado, mas carrega uma importância emocional que é difícil de ignorar. Embora os gráficos e a jogabilidade não tenham resistido ao teste do tempo, o coração do jogo está lá. Ele pode não ser um clássico imortal, mas para quem cresceu com ele, será sempre lembrado com carinho. 

NOTA:
6
/10

Earthbound


Imagine que você está caminhando por uma cidadezinha tranquila, onde o sol brilha e as risadas das crianças ecoam pelas ruas. É tudo tão familiar, quase como uma memória acolhedora de um tempo que você nem se lembra direito. Mas, de repente, as coisas mudam. As cores ao seu redor começam a se distorcer, o céu ganha tons neon impossíveis, e as pessoas começam a falar coisas que não fazem o menor sentido. Esse é o ponto de partida de EarthBound, um jogo que constantemente te surpreende e te joga em uma jornada onde o cotidiano se mistura com o surreal, o familiar com o completamente bizarro.

Lançado em 1994 no Japão como Mother 2 e trazido para o ocidente em 1995 como EarthBound, esse jogo faz parte de uma série que se destaca pela sua abordagem nada convencional aos RPGs. Enquanto o primeiro Mother já introduzia essas ideias, foi em EarthBound que o estilo único da série realmente se solidificou. Um misto de humor, mistério e uma profundidade emocional que ninguém esperava. Na época, o jogo não fez tanto sucesso fora do Japão, mas com o tempo ele se tornou um clássico cult, com uma legião de fãs que até hoje explora seus mistérios e teorias.

O que faz EarthBound ser tão especial é o jeito como ele desafia as convenções. Enquanto outros RPGs da época te levavam para mundos cheios de dragões e cavaleiros, EarthBound te coloca em uma espécie de paródia de subúrbio americano. Aqui, crianças usam tacos de beisebol e ioiôs como armas, e você enfrenta inimigos como hippies furiosos e robôs alienígenas. Mas o jogo não é estranho por ser estranho. Ele tem uma narrativa densa, cheia de emoções, que fala sobre amadurecimento, perda da inocência e o confronto com o desconhecido.

Uma das maiores forças de EarthBound está na construção do seu mundo. O jogo faz você sentir que está sempre prestes a vivenciar algo extraordinário. Desde a tranquilidade das ruas de Onett até as paisagens surreais de Moonside, onde as cores são invertidas e a lógica não faz sentido, o jogo te envolve em um universo que te faz rir com seu humor excêntrico, mas também te assusta com suas estranhezas. Personagens como o Mr. Saturn e os habitantes de Saturn Valley são exemplos perfeitos dessa mistura entre o inocente e o perturbador.

E então chegamos a Giygas, um dos vilões mais perturbadores da história dos videogames. Ao contrário de outros vilões que têm motivações claras, Giygas é o caos puro, uma força destrutiva sem forma física, que desafia qualquer explicação. A batalha final contra Giygas é, sem dúvida, uma das mais desconcertantes. A música distorcida, os visuais caóticos e a sensação de impotência que o jogo te passa criam uma experiência de terror psicológico única. A famosa frase “Você não pode compreender a verdadeira forma do ataque de Giygas” ecoa perfeitamente a desorientação que permeia toda essa luta.

Essa batalha não é só o desafio final, como também o auge de uma jornada emocional e psicológica. Ness e seus amigos — Paula, Jeff e Poo — começam o jogo como crianças comuns, mas ao longo da aventura eles enfrentam muito mais do que apenas monstros. Eles encaram seus próprios medos e dúvidas. Em Magicant, Ness precisa confrontar as partes mais profundas de sua mente, em uma sequência que é tanto introspectiva quanto devastadora.

A trilha sonora de EarthBound também é fundamental para criar a atmosfera do jogo. Ela alterna entre melodias nostálgicas e sons desconfortantes, especialmente nos momentos mais críticos. Durante o confronto com Giygas, a música atinge um ponto de tensão insuportável, aumentando a sensação de que você está lutando contra algo incompreensível.

Apesar de todo o mistério e escuridão, EarthBound consegue ser incrivelmente engraçado. Seu humor é excêntrico, cheio de referências à cultura pop ocidental, como os Beatles, e quebra a tensão em momentos-chave, criando um equilíbrio perfeito entre o leve e o sombrio. Os diálogos absurdos com NPCs e as situações imprevisíveis te mantêm constantemente envolvido.

*
Curiosidade!
Para os fãs mais dedicados, que já zeraram EarthBound incontáveis vezes, existe uma solução para trazer um frescor à jogatina: o EarthBound Randomizer. Essa ferramenta online te dá a opção de embaralhar tudo no jogo — de itens a inimigos e até mesmo os cenários!

No fim das contas, EarthBound é uma experiência única, que mistura o surreal e o emocional de uma maneira que poucos jogos conseguem. Ele te desafia a abandonar suas expectativas e te convida a mergulhar em um mundo onde o familiar e o desconhecido estão sempre colidindo. Ao mesmo tempo em que te faz rir, ele te deixa inquieto, e é isso que garante que EarthBound continue sendo uma experiência inesquecível — um jogo que não só desafia as regras dos RPGs, mas transcende os limites do próprio gênero.

NOTA:
7
/10

Trilogia Bioshock


Imagine se deparar com uma cidade submersa, perdida nas profundezas do oceano. Rapture, de longe, já te impressiona com sua grandiosa arquitetura em art déco – um estilo dos anos 1920 e 1930 que combina formas geométricas, linhas retas e luxo – e seus neons piscando no meio da destruição. Mas o que realmente te envolve é o clima opressivo, quase claustrofóbico, que te cerca a cada passo. Logo você percebe que essa cidade, que um dia foi uma utopia vibrante, é agora um pesadelo. No começo, há uma certa beleza, um ar de fascínio, mas, conforme você explora, entende que essa fachada esconde uma realidade brutal e sombria. O perigo está sempre presente.

Os antigos habitantes de Rapture, deformados e consumidos por sua obsessão com o ADAM, a substância que dá poderes sobre-humanos, rondam os corredores. Você ganha acesso a esses mesmos poderes, que te permitem controlar fogo, eletricidade, ou até a mente dos seus inimigos. Mas essa sensação de poder nunca dura muito. Rapture é um lugar onde o poder corrompe tudo, e o jogo faz questão de te lembrar disso o tempo todo, equilibrando as habilidades que você adquire com a constante falta de recursos e a presença de inimigos implacáveis. Aqui, o poder tem um custo, e isso repercute em cada decisão que você toma.

À medida que você avança, a cidade começa a revelar suas camadas mais complexas. Bioshock é uma obra de arte não só visual, mas narrativa. A história não é entregue de bandeja — você precisa explorá-la, coletar fragmentos de informações, ouvir gravações deixadas para trás, entender os motivos por trás da ascensão e queda de Rapture. E mesmo depois de terminar o jogo, a trama permanece com você, instigando perguntas. Mesmo após zerar o jogo, é interessante recorrer a vídeos para compreender completamente o enredo, que brinca com conceitos de livre-arbítrio, controle e moralidade. O famoso "Would you kindly?" ("Poderia, por gentileza?") é um exemplo perfeito de como o jogo te faz questionar se você realmente está no controle ou apenas seguindo um roteiro cuidadosamente desenhado.

Mas é a estética de Bioshock que realmente me fascina. Poucos jogos conseguem criar uma atmosfera tão envolvente quanto essa saga. A ambientação de época, encharcada de retrofuturismo, te transporta para outra realidade, ao mesmo tempo bela e decadente. Cada detalhe, desde a arquitetura até a trilha sonora, foi feito para te imergir completamente nesse mundo. É o tipo de estética que eu, pessoalmente, considero incomparável. Rapture, com suas influências dos anos 1930, é uma mistura perfeita de sonho e pesadelo, onde o luxo e a degradação andam lado a lado. Poucos jogos chegam perto dessa combinação única, talvez apenas a estética da saga Fallout, mas Bioshock traz uma elegância sombria que é difícil de superar.

Se Rapture é uma metáfora da corrupção pela ambição e pela ganância, Columbia, cenário de Bioshock Infinite, revela uma face diferente, mas igualmente perturbadora. Ao contrário da cidade submersa, Columbia flutua nos céus, com suas ilhas suspensas e festividades patrióticas. Mas logo ao tocar o chão, você percebe que essa cidade, que parece saudar o esplendor do American Dream, é um lugar profundamente opressivo, onde o racismo e o fanatismo religioso governam. A história de Bioshock Infinite se desenrola de maneira frenética, com combates dinâmicos em trilhos aéreos, e uma narrativa que se aprofunda em universos paralelos e escolhas morais. Elizabeth, sua companheira na jornada, é mais do que uma simples ajudante — ela tem o poder de abrir fendas para outras realidades, e cada ação que ela realiza pode mudar o curso da história. Isso traz uma sensação de mistério e urgência que faz de Columbia um lugar tão fascinante quanto Rapture, mas de um jeito completamente diferente.

Ainda assim, é impossível ignorar o quão central é a estética nessas cidades. Columbia, com sua estética vitoriana e futurista, também tem uma beleza visual que contrasta violentamente com o horror político e social que permeia cada esquina. As ruas ensolaradas e os desfiles patrióticos são apenas uma máscara para uma sociedade profundamente desigual e segregada, onde aqueles que vivem à margem lutam por sobrevivência. É um ambiente deslumbrante, mas traiçoeiro, onde cada detalhe revela as rachaduras de uma civilização que se esconde atrás de ideais falsos.

Voltando a Rapture, especialmente em Bioshock 2, há uma profundidade emocional ainda mais evidente, com a dinâmica entre as Little Sisters e os Big Daddies. Esses gigantes, que antes pareciam ser apenas monstros, revelam uma relação profundamente simbólica com as Little Sisters, as crianças que eles protegem com tudo o que têm. A psicologia por trás dessa relação vai além do simples "bem contra o mal". Em Bioshock 2, você assume o papel de um Big Daddy, e a sensação de vulnerabilidade emocional ao proteger uma Little Sister adiciona uma nova camada de complexidade ao jogo. Essas figuras, que antes pareciam só brutamontes violentos, se transformam em seres trágicos, presos numa existência de proteção e obediência cega, enquanto as Little Sisters, manipuladas e corrompidas, vagam pelas ruínas de Rapture em busca de ADAM. Essa dinâmica é central e toca em questões de dependência, proteção e perda de inocência.

Essa carga emocional, misturada à estética única e à profundidade da história, é o que torna Bioshock uma série tão única e insubstitível. Não é apenas um jogo de tiro ou um exercício de exploração — é uma experiência filosófica, onde você é constantemente desafiado a questionar suas próprias escolhas, ao mesmo tempo em que se perde em cenários de tirar o fôlego. Ao final, o que fica não são apenas as batalhas ou os poderes que você conquistou, mas a reflexão sobre poder, controle, moralidade e a fragilidade das utopias.

Antes de finalizar, tem algo que eu levei um tempo para entender e quero explicar, que é a diferença entre ADAM, EVE e Plasmids. O ADAM é a pedra-angular de Rapture, pois é ele que permite que você mude sua genética. Já os Plasmids são as habilidades especiais em si, como lançar fogo, eletricidade ou mover objetos com a mente. O problema é que o ADAM só pode ser conseguido através das Little Sisters, meninas transformadas pela substância. Aqui está o dilema: você pode salvá-las ou sacrificá-las, e isso afeta a quantidade de ADAM que você terá, além de influenciar o final do jogo.

O EVE, por sua vez, é o que "carrega" os Plasmids, funcionando como a energia que os alimenta. Toda vez que você usa uma habilidade, como dar um choque ou manipular algo, o EVE é consumido rapidamente. Se ele acabar, você não consegue usar essas habilidades até conseguir mais. Isso te força a pensar o tempo todo se vale a pena usar um poder agora ou guardar para depois. No fim, o jogo é sobre equilibrar o uso do ADAM e do EVE. Quanto mais poder você quer, mais caro isso sai, seja em recursos ou em escolhas morais. E é justamente esse equilíbrio entre sobrevivência e corrupção que torna a experiência de Bioshock tão única.

De todo modo, mesmo que você consiga chegar ao fim da trilogia, é provável que algumas questões ainda fiquem na sua cabeça. É o tipo de jogo que te leva a buscar respostas, seja revendo gravações que você encontrou no jogo ou assistindo vídeos explicativos para compreender as camadas mais profundas da trama. Bioshock te deixa pensando por muito tempo depois que os créditos finais rolam — e isso, para mim, é o que define uma verdadeira obra-prima.

NOTA:
10
/10

domingo, 8 de setembro de 2024

A história dos videogames no Brasil


Que o Brasil não é para amadores, a gente já sabe. Agora, se tem uma história que ilustra isso com perfeição é a saga dos videogames no país, uma jornada movida a pirataria, contrabando e, claro, muito improviso. Nos anos 80 e 90, enquanto o resto do mundo se recuperava do crash dos videogames de 1983 e tentava entender o que deu errado, o Brasil seguia outro caminho, quase que em um universo paralelo. Por aqui, não tinha crise que segurasse a galera, e se os jogos não chegavam oficialmente, a gente dava um jeito. Nasciam então os consoles piratas, os clones e as locadoras de jogos, que viraram verdadeiros templos para os gamers de plantão.
O Brasil, naquela época, estava longe de ser o mercado estruturado que vemos hoje. O país vivia sob a ditadura militar, e as políticas de importação eram rígidas. Importar um console? Praticamente impossível. Mas, como dizem por aí, "a necessidade é a mãe da invenção". Foi assim que surgiram os clones do Atari, como o Top Game, e a famosa pirataria começou a ganhar forma. A Gradiente, sempre ousada, liderou essa onda ao lançar o Phantom System, um clone do Nintendo que se tornou um sucesso absoluto por aqui, rodando os mesmos jogos e, em alguns aspectos, até superando o original. Já a TecToy, que também não estava de brincadeira, fez história ao representar oficialmente a Sega no Brasil e ao adaptar jogos clássicos para o público brasileiro. De um lado, a pirataria corria solta, e do outro, o Brasil construía seu próprio império gamer, ainda que na base da malandragem.
A febre dos anos 90 não pode ser contada sem mencionar dois jogos que marcaram uma geração inteira: Super Mario World e Ultimate Mortal Kombat 3. Quando Super Mario World chegou ao Brasil em 1993, junto com o Super Nintendo (trazido pela Playtronic em uma parceria com a Gradiente e a Estrela), ele já era um sucesso mundial, mas por aqui ele virou quase uma religião. Quem não lembra de passar horas tentando descobrir todos os segredos do mundo do Mario, coletando cogumelos verdes e penas, e andando pelas costas do Yoshi? O jogo trouxe uma jogabilidade inovadora, com caminhos alternativos e fases secretas que pareciam nunca ter fim. Além disso, era o primeiro contato de muitos brasileiros com o Super Nintendo, que era tão desejado que as crianças sonhavam com ele antes mesmo de seu lançamento oficial.
Por outro lado, nos fliperamas, quem dominava era Ultimate Mortal Kombat 3 (UMK3). O jogo de luta, com seus gráficos impressionantes para a época e seus fatalities icônicos, virou febre entre os jovens. Não tinha um fliperama em que não rolassem desafios épicos, com cada jogador tentando provar sua superioridade com Scorpion, Sub-Zero ou Liu Kang. Era um fenômeno: UMK3 lotava as locadoras e os fliperamas de todo o país, e quem conseguisse dar o famoso "Finish Him!" com perfeição ganhava o respeito eterno da galera. O jogo se tornou um símbolo dos anos 90, e até hoje é lembrado com carinho por aqueles que viveram essa época de ouro dos games.
Agora, não dá para contar essa história sem mencionar a relação quase obsessiva que a geração dos anos 90 tinha com os videogames. A coisa era tão intensa que a televisão chegou a fazer reportagens sobre a febre dos jogos no Brasil. As crianças passavam horas grudadas na tela, imersas em mundos que só existiam nos jogos. A solidão, os desafios e a concentração eram parte do pacote. Era um universo em que a morte não era o fim, e sim uma chance de tentar de novo – quantas vezes fosse necessário. Afinal, na vida real, a gente não pode reiniciar o jogo, mas no mundo dos videogames, essa era a regra de ouro. Quem jogava sabia que, para chegar ao final, era preciso morrer várias vezes e aprender com cada erro.
E, se você achava que a coisa toda se limitava aos consoles e fliperamas, é bom lembrar que nos anos 90, o Brasil também assistia ao crescimento das locadoras de games, que se tornaram um ponto de encontro dos jogadores. Essas locadoras eram o coração pulsante da cultura gamer, onde a galera se reunia para alugar fitas de jogos ou disputar campeonatos. No meio disso tudo, os pais também entraram na jogada. Em uma época em que manuais de instrução estavam em inglês e as crianças não sabiam ler direito, os adultos acabavam ajudando, lendo as instruções e, muitas vezes, jogando junto com os filhos, numa união quase sagrada entre gerações.
A verdade é que a história dos videogames no Brasil é sobre resiliência e criatividade. A gente nunca esperou as coisas caírem no nosso colo – a gente foi lá e fez acontecer, nem que fosse no improviso. Seja com um clone do Atari, com Super Mario World no Super Nintendo, ou com as lutas épicas de Ultimate Mortal Kombat 3, o Brasil construiu seu próprio caminho no mundo dos games, e até hoje essa história inspira e motiva uma nova geração de jogadores e desenvolvedores que seguem reinventando as regras. Porque, no fim das contas, jogar videogame no Brasil nunca foi só sobre diversão – foi sobre encontrar uma maneira de fazer parte de algo maior, mesmo quando as cartas estavam todas contra nós.