domingo, 12 de janeiro de 2025

Ori and the Blind Forest


Se me perguntarem qual o jogo mais bonito que já joguei, minha resposta será imediata, sem pensar duas vezes: Ori and the Blind Forest. Não apenas por ser visualmente deslumbrante – o que, sem sombra de dúvidas, é –, mas porque há algo ali, na forma como o jogo combina narrativa, arte e música, que transforma a experiência em algo transcendental. Qualquer pessoa que tenha se aventurado pela floresta de Nibel sabe exatamente do que estou falando. É um jogo que não se joga apenas; você o sente. Ele te abraça e, ao mesmo tempo, desafia, deixando uma marca que dificilmente se apaga.

Ori and the Blind Forest nasceu de um sonho. Literalmente. A Moon Studios foi criada exclusivamente para dar vida a este jogo, unindo talentos espalhados pelo mundo com o único propósito de construir algo extraordinário. Essa visão começou em 2010, quando decidiram criar um estúdio diferente, onde barreiras geográficas não limitassem a criatividade. A ideia de uma equipe distribuída, trabalhando remotamente, possibilitou reunir pessoas apaixonadas e de perspectivas únicas. E então, com o apoio da Microsoft, que adquiriu os direitos de distribuição cerca de um ano após o início do desenvolvimento, o sonho começou a ganhar forma. A parceria entre um pequeno estúdio independente e uma gigante como a Microsoft não foi apenas uma oportunidade; foi o alicerce que permitiu que cada detalhe do jogo fosse refinado até alcançar um nível quase inatingível de perfeição.

E essa perfeição se reflete em cada instante do jogo. A história, que parece simples à primeira vista, logo revela camadas profundas de emoção e significado. Ori, um espírito guardião, é acolhido por Naru, uma figura maternal que enche os primeiros momentos de calor e ternura. Mas a tragédia logo quebra essa harmonia, deixando Ori sozinho em um mundo em colapso. A jornada que se segue – para restaurar a vida da floresta de Nibel – não é apenas uma missão heroica. É uma ode à resiliência, à coragem e à conexão com algo maior do que nós mesmos. Com gestos silenciosos, uma trilha sonora inesquecível e visuais que parecem ter sido arrancados de um sonho, Ori comunica mais do que qualquer diálogo seria capaz.

O mundo que Moon Studios criou é uma pintura viva. A floresta de Nibel respira e pulsa com vida, e cada canto dela parece meticulosamente desenhado à mão. A paleta de cores não está ali só para ser bonita; ela conta histórias, reflete emoções e guia o jogador por um caminho de luzes e sombras que é tão mágico quanto orgânico. O uso da iluminação, por exemplo, vai além do estético; é funcional e narrativo, como se a própria floresta estivesse conversando com você. E há algo quase mágico na fluidez com que as áreas se conectam, como se não houvesse limites entre um cenário e outro – somente uma continuidade que te convida a explorar.

Mas o que seria da beleza sem a jogabilidade? Ori and the Blind Forest é mais do que visualmente encantador; ele desafia você a se mover com graça e precisão. Cada habilidade que Ori aprende, como o icônico Bash, não só amplia suas opções de exploração, mas também transforma o modo como você interage com o mundo. Cada salto, cada desvio, cada fuga tensa (como a inesquecível subida na árvore Ginso) parece uma dança entre você e o ambiente, uma troca constante de movimentos que recompensa tanto a habilidade quanto a paciência. E há algo incrivelmente único no sistema de salvamento, o Soul Link, que transforma até o simples ato de salvar em uma escolha estratégica.

Nada disso seria possível sem a trilha sonora, que é uma personagem à parte. Ela não só acompanha os acontecimentos, mas os eleva. Desde os sussurros melódicos que te envolvem durante a exploração, até os crescendos épicos que aceleram o coração nas sequências de ação, cada nota parece pensada para tocar algo profundo dentro de quem joga. Não é apenas música; é narrativa pura, que guia suas emoções tanto quanto a própria história.

E então veio Ori and the Will of the Wisps, lançado em 2020, para expandir essa magia. Se o primeiro jogo foi uma obra de arte em equilíbrio, o segundo é a sua evolução. Com um mundo três vezes maior, um sistema de combate reformulado que permite o uso de armas como espadas e arcos, e novas formas de personalizar habilidades, o jogo elevou a experiência a outro patamar. O centro vibrante de Wellspring Glades, onde personagens oferecem quests e melhorias, cria uma sensação de comunidade única. A narrativa se aprofunda ainda mais, explorando temas de sobrevivência e esperança, enquanto Ori enfrenta inimigos como a poderosa e trágica coruja Shriek. É um lembrete de que, mesmo em um universo digital, há espaço para contar histórias que nos tocam profundamente.

No entanto, a verdadeira mágica de Ori está no impacto que ele deixa. É o tipo de jogo que você finaliza e, mesmo assim, sente que ele nunca realmente termina. Ele permanece com você, como uma memória vívida de algo que foi mais do que entretenimento. Não é exagero dizer que Ori redefiniu o que eu acredito que videogames podem ser. E pensar que tudo começou com o sonho de criar algo que homenageasse clássicos de plataforma, mas que acabou se tornando muito mais: um marco artístico e emocional.

Se você ainda não jogou Ori and the Blind Forest ou sua continuação, não há mais o que esperar. A floresta de Nibel e os mistérios de Will of the Wisps estão lá, esperando para serem explorados. Não são apenas jogos – são experiências que iluminam a alma. Uma vez que você entrar, é impossível sair o mesmo.

NOTA:
10
/10