RollerCoaster Tycoon [1 & 2]
Lá por 2004, quando a internet ainda não era algo tão acessível para a maioria da classe média no Brasil, ter alguns jogos instalados no PC era quase uma necessidade. Eu me virava com Donkey Kong Country 3 e The Sims 1, dois clássicos que deixaram memórias fortes. Mas, em um dia qualquer, um amigo do meu irmão apareceu com um CD-ROM misterioso, com um título chamativo: RollerCoaster Tycoon. E foi aí que eu conheci um novo universo de simulação – mais complexo até que o The Sims 1 –, todo colorido, cheio de desafios de finanças, marketing e aquela atmosfera autêntica de parque de diversão, especialmente na trilha sonora inesquecível. A ideia de poder criar e gerenciar um parque inteiro com todos os seus altos e baixos foi um encanto imediato e intrigante.
Quando o desenvolvedor Chris Sawyer lançou RollerCoaster Tycoon em 1999, a série rapidamente virou um clássico no mundo dos jogos de simulação. O jogo não foi apenas mais um dentro do gênero. Ao lado de outros títulos icônicos como SimCity, ele ajudou a estabelecer um novo patamar para os jogos de simulação em jogabilidade e profundidade. O primeiro título trouxe desafios instigantes e um sistema de progressão bem elaborado, onde você precisava atingir metas específicas, como aumentar o número de visitantes ou o valor do parque. A liberdade para desenhar montanhas-russas, personalizar cada atração e gerenciar as finanças com precisão dava uma sensação de controle única.
A criação de RollerCoaster Tycoon envolveu um feito técnico impressionante. Chris Sawyer escreveu praticamente todo o código em Assembly x86, uma linguagem rudimentar que, embora seja mais próxima ao hardware, exige uma habilidade técnica intensa para ser programada. Isso permitiu que o jogo rodasse com fluidez em computadores mais modestos da época, tornando possível a execução de simulações de variáveis complexas em tempo real sem comprometer o desempenho. Sawyer projetou algoritmos específicos para o comportamento dos visitantes, garantindo que cada ação deles, como buscar rotas ou reagir a atrações, fosse processada de forma eficiente em termos de código. Esse tipo de otimização, combinado com gráficos detalhados criados por Simon Foster, deu ao jogo um estilo visual único e uma performance difícil de superar, que se tornou referência para desenvolvedores até hoje.
O que sempre me chamou a atenção é como RollerCoaster Tycoon consegue ser uma mistura de estratégia com design, estética, arquitetura e até urbanismo. Não se trata apenas de jogar; ao criar um parque, você se vê em uma jornada que equilibra criatividade com viabilidade econômica. Cada atração precisa ser pensada não só pelo visual, mas pelo custo, retorno financeiro e até a manutenção. Essa combinação entre liberdade criativa e uma simulação econômica tão precisa se tornou uma marca registrada do jogo e inspirou títulos da franquia como Planet Coaster e Zoo Tycoon a seguirem o mesmo caminho.
Na minha opinião e experiência, RollerCoaster Tycoon acaba sendo um jogo realmente difícil, pois é muito mais uma simulação propriamente dita (no seu sentido realista e educativo) do que um entretenimento fácil de consumir. Por isso, acredito que a maior parte dos jogadores convencionais (mainstream/vanilla) não se adaptariam a esses dois primeiros clássicos da franquia, hoje em dia. Eu mesma, quando tento voltar a jogar, rapidamente me enrolo na complexidade da simulação e logo perco o interesse. A curva de aprendizado e a exigência de constante atenção aos detalhes fazem com que o jogo demande um foco que é raro em games de simulação atuais, onde a ênfase geralmente recai em experiências mais acessíveis e visualmente simplificadas.
Com isso, RollerCoaster Tycoon se firma, mais uma vez, como um desafio de estratégia robusta que testa tanto o raciocínio lógico quanto a capacidade de planejamento a longo prazo do jogador. Em sua análise para o SubpixelFilms, Jake Theriault comenta como o jogo "prospera no caos", destacando o desafio de controlar visitantes imprevisíveis. É isso que diferencia RollerCoaster Tycoon de tantos outros jogos de estratégia, quase como se estivéssemos em uma batalha silenciosa contra a anarquia que cada visitante carrega. Como bem aponta o artigo da Monique Silva para o LaunchPad Lab, RollerCoaster Tycoon é praticamente uma "aula de negócios, produto e design". Cada cenário traz metas bem definidas, fazendo o jogador pensar em cada movimento estratégico. Os visitantes, com suas preferências variadas e exigências, se tornam uma fonte constante de feedback, forçando a gente a ajustar os planos e a repensar as táticas a todo instante.
Mais do que construir parques, jogar RollerCoaster Tycoon foi uma lição valiosa sobre empreendedorismo. O jogo ensina conceitos como física, economia e até mesmo gestão. Ao projetar montanhas-russas, por exemplo, é preciso pensar em forças verticais e laterais, velocidade e gravidade – tudo para garantir segurança e emoção, aplicando conceitos de física que muitas vezes só vemos na teoria. E na parte financeira, é um verdadeiro curso sobre fluxo de caixa, como manter filas curtas e aumentar o lucro das atrações. A série teve um impacto significativo para muita gente da minha geração, despertando o interesse por áreas como engenharia e administração. Ela nos dava a chance de experimentar com design, construção e gestão empresarial em um ambiente seguro e divertido, uma verdadeira porta de entrada para essas áreas.
Os gráficos pixelados e o estilo isométrico de RollerCoaster Tycoon têm um charme próprio, que captura aquela nostalgia inigualável dos jogos do início dos anos 2000. A paleta vibrante e os efeitos sonoros – desde os gritos dos visitantes nas montanhas-russas até o tilintar de moedas nos quiosques – eram simples, mas funcionavam muito bem em dar vida ao parque.
Com RollerCoaster Tycoon 2, lançado em 2002, vieram novas ferramentas, como o editor de cenários e atrações, além da possibilidade de criar parques inspirados em lugares reais, deixando o jogo ainda mais envolvente. Entre os aprimoramentos mais marcantes estão as novas atrações aquáticas e as opções de decoração temáticas, que possibilitam a criação de ambientes personalizados e imersivos. Elementos como cascatas, fontes e detalhes aquáticos complementam as atrações e aumentam o apelo visual do parque, permitindo que os jogadores criem ambientes personalizados e majestosos. Eu me lembro, quando criança, de visitar meu melhor amigo do ensino fundamental na lan-house da mãe dele e, no computador dos fundos, ver ele jogando RollerCoaster 2, ficando amarradona com as decorações aquáticas e novos brinquedos temáticos, como o Cinema. Era o futuro!
Para a comunidade de fãs, RollerCoaster Tycoon nunca perdeu sua magia, e essa paixão se concretizou no projeto OpenRCT2. Esta versão de código aberto do clássico é mantida por entusiastas que se dedicam a expandir e aprimorar o jogo original. OpenRCT2, a versão moderna e otimizada de RollerCoaster, traz melhorias importantes, como suporte para altas resoluções, correções de bugs e até um modo multiplayer, permitindo que jogadores colaborem na criação de parques em tempo real. Além disso, ele oferece ferramentas para criar novos conteúdos personalizados, garantindo que a criatividade e a inovação permaneçam centrais no universo de RollerCoaster Tycoon.
Revisitar RollerCoaster Tycoon é abrir um álbum de memórias. Cada parque criado, cada objetivo alcançado, remete a uma época em que a criatividade fluía sem limites. Esse jogo de estratégia, que atravessou gerações, continua a ensinar e a inspirar, mostrando que a diversão pode ser muito mais do que simples entretenimento – pode ser uma verdadeira escola para a vida. Em cada cenário, o jogo nos desafia a planejar, resolver problemas e administrar recursos, lições que ultrapassam a tela e que até hoje atraem novos jogadores ao mundo de RollerCoaster Tycoon.