Mortal Kombat: Shaolin Monks
Mortal Kombat sempre carregou consigo combates intensos e Fatalities inesquecíveis, mas, ao longo dos anos, um ponto se tornou impossível de ignorar: a mobilidade dos jogos parecia estar presa no tempo. Seja na fase 3D de Mortal Kombat: Deception, na trilogia clássica do Super Nintendo, ou mesmo em experimentos como Mortal Kombat: Armageddon, o problema era o mesmo: movimentos duros, cenários mais decorativos do que funcionais, e pouca liberdade para explorar as arenas. Era frustrante. Mas, em 2005, o lançamento de Mortal Kombat: Shaolin Monks mudou tudo. Foi como se a franquia finalmente soltasse os grilhões e permitisse que os jogadores respirassem — e se movessem — de verdade.
Shaolin Monks pegou tudo que a série tinha de melhor e transportou para uma experiência completamente nova. Os combates, antes confinados, ganharam vida em ambientes tridimensionais que incentivavam não apenas a luta, mas a exploração. Pela primeira vez, a mobilidade deixava de ser um ponto fraco e se tornava o maior destaque do jogo. De maneira inédita, o sistema de combate agora permitia ataques contra múltiplos inimigos simultaneamente e combos que se conectavam com fluidez impressionante. Isso sem falar das habilidades que eram progressivamente desbloqueadas, ou seja, os ataques especiais absolutamente maneiro e viciantes, em especial os do Kung Lao. É uma sensação de liberdade inexplicável. Esse novo sistema também introduziu a interação com o ambiente como parte essencial da estratégia — arremessar inimigos em árvores que os devoravam ou usá-los para ativar armadilhas fazia com que cada batalha fosse mais dinâmica e criativa.
Na narrativa, Shaolin Monks reimaginava os eventos de Mortal Kombat II, expandindo a história clássica com novos detalhes e um enredo mais acessível. O jogo começava logo após o colapso da ilha de Shang Tsung, com Liu Kang e Kung Lao sendo lançados em uma jornada para impedir que o feiticeiro dominasse Earthrealm. No caminho, encontramos personagens icônicos como Scorpion, Baraka e Reptile, além de explorar cenários agora amplamente desenvolvidos, como a Floresta Viva, o Túmulo das Almas e o Outworld. Esses locais não eram apenas visualmente deslumbrantes; cada um tinha uma função prática e narrativa que reforçava a imersão.
E se jogar sozinho já era uma experiência incrível, o modo cooperativo levava tudo a outro patamar. Shaolin Monks é um daqueles raros jogos que entendem o que significa jogar com outra pessoa ao lado. Desde a coordenação para acessar áreas exclusivas até os ataques combinados que traziam uma sensação única de sincronia, o multiplayer local era tão bem pensado que parecia obrigatório experimentar o jogo dessa forma. A interação entre Liu Kang e Kung Lao, repleta de provocações e piadas, dava um tom mais leve e divertido, sem perder a intensidade do universo Mortal Kombat.
Outro aspecto que merece destaque é o cuidado da Midway em criar uma atmosfera inesquecível. Cada cenário, cada música e cada som contribuíam para um mundo que se sentia vivo, mas ao mesmo tempo sombrio e ameaçador. A trilha sonora misturava instrumentos orientais e composições sinistras que reforçavam o tom marcial e místico do jogo. Além disso, elementos de jogos metroidvania foram adicionados de forma sutil, com habilidades como saltos duplos, corrida em paredes e destruição de estátuas que permitiam explorar áreas previamente inacessíveis. Essa camada extra de exploração ampliava o tempo de jogo e a sensação de recompensa ao descobrir segredos escondidos.
É curioso pensar como Shaolin Monks conseguiu acertar em tantos aspectos que outros títulos da série falharam. Desde a jogabilidade fluida até a forma como reimaginou o enredo de Mortal Kombat II, o jogo provou que a série não precisava ser limitada a arenas fixas e combates um contra um. Onde jogos como Deception e Armageddon ainda tropeçavam em ambições excessivas, Shaolin Monks entregou uma experiência coesa e marcante. Quase vinte anos depois, ele continua a ser um ponto fora da curva na franquia, lembrado com carinho e saudade pelos fãs. Não é à toa que, mesmo agora, muitos clamam por um remake ou uma sequência que capture a mesma ousadia criativa.
Shaolin Monks não foi apenas um spin-off; foi o único jogo da série a oferecer mobilidade real, e é isso que o torna um clássico tão especial.